
O mês de janeiro, tradicionalmente associado a recomeços e resoluções, é também dedicado ao movimento Janeiro Branco, que propõe um olhar atento à saúde mental, tema por vezes negligenciado ou envolto em tabus.
A psicanálise oferece valiosas contribuições para compreender o sofrimento psíquico, suas origens e caminhos possíveis de elaboração.
Freud foi pioneiro ao afirmar que os sintomas psíquicos não são ruídos sem sentido, mas mensagens codificadas que podem ser traduzidas.
Em Estudos sobre a Histeria (1895), ele apontou que os sintomas psíquicos frequentemente têm raízes em conflitos inconscientes que resistem à consciência.
“Os sintomas histéricos […] não são apenas fenômenos sem sentido, têm um significado, são como uma língua que pode ser traduzida para a língua comum.
[...] A tarefa da psicanálise é decifrar essa ‘língua’ e revelar o conteúdo reprimido, de forma que o paciente possa tomar conhecimento dele e, assim, superar o sintoma.” (Freud, 1895/1996, p. 107).
Essa ideia é fundamental para entendermos que os sintomas, sejam eles ansiedades, angústias, repetições ou outros, carregam mensagens que demandam escuta.
Ao falarmos de saúde mental, não nos referimos apenas a diagnósticos ou curas rápidas, mas exatamente à escuta atenta, à linguagem e à possibilidade de atribuir significado às experiências subjetivas que nos atravessam. Como nos mostrou Lacan, ao retomar e expandir a teoria freudiana em seu Seminário 11: Os Quatro Conceitos Fundamentais da Psicanálise (1973), "o inconsciente está estruturado como uma linguagem". Nessa perspectiva, o sofrimento psíquico não é um fenômeno isolado, mas um discurso, uma mensagem que precisa ser lida, escutada e decifrada.
O Janeiro Branco nos proporciona essa oportunidade simbólica para escutarmos o que está por trás de nossas angústias e repetições, permitindo-nos explorar o inconsciente, nossos desejos, medos e conflitos, que moldam e estruturam nossa subjetividade humana.
O Janeiro Branco é, então, um convite para a análise. É uma oportunidade de se perguntar: Como realmente me sinto? O que em mim se repete? Qual é o desejo que me move? Qual o medo que me paralisa? ...
A psicanálise nos ensina que a saúde mental não é uma questão de normalidade, mas de singularidade – é sobre encontrar um modo de habitar o mundo que esteja em consonância com aquilo que somos, com nosso desejo.
Por isso, neste mês dedicado à saúde mental, vale refletir sobre a importância do cuidado psíquico, não como um luxo, mas como uma necessidade básica.
Aproveite o Janeiro Branco para se permitir escutar o que o seu inconsciente tem a dizer. Busque um psicanalista ou um espaço de escuta que permita transformar o sofrimento em palavras e as palavras em caminhos.
“O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.”
(João Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas, 1956)
Texto de Thamara Kalil.
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